domingo, 16 de maio de 2010

Spleen e Ideal


II - O Albatroz

Às vezes, por folgar, os homens da equipagem

Pegam de um albatroz, enorme ave do mar,

Que segue - companheiro indolente de viagem -

O navio no abismo amargo a deslizar.

E por sobre o convés, mal estendido apenas,

O imperador do azul, canhestro e envergonhado,

Asas que enchem de dó, grandes e de alvas penas,

Eis que deixa arrastar como remos ao lado.

O alada viajor tomba como num limbo!

Hoje é cômico e feio, ontem tanto agradava!

Um ao seu bico leva o irritante cachimbo,

Outro imita a coxear o enfermo que voava!

O Poeta é semelhante ao príncipe do céu

Que do arqueiro se ri e da tormenta no ar;

Exilado na terra e em meio do escarcéu,

As asas de gigante impedem-no de andar.


Charles Pierre Baudelaire

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